sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Levar a ler (em família)

Ilustr. Sophie Blackall, Finding Winnie.
 
 
Não existem receitas, nem fórmulas mágicas, para levar uma criança a gostar de ler. A formação de um leitor começa quando a criança nasce, ou melhor, quando ainda está na barriga da mãe, e estende-se por vários anos até que se torne autónoma e competente na leitura e compreensão das imagens e das palavras dos livros ou dos sinais do mundo. Esse percurso é longo, emocionante, trabalhoso, exige reflexão, imaginação, mas, sobretudo, partilha e atenção.
 
Não existem receitas, mas há, a meu ver, 3 aspetos fundamentais, ou ingredientes, se assim lhe quisermos chamar, que contribuem indiscutivelmente para fomentar o prazer de ler desde a primeira infância:
 
1. Bons livros / boas histórias
No meio da enorme produção de livros infantis, atualmente em venda até em supermercados, é extremamente importante selecionar material de qualidade, em quantidade e variedade suficientes, e adequado à etapa de maturação leitora da criança: canções de embalar, lengalengas, trava-línguas, histórias tradicionais, livros-álbum, fábulas, livros informativos, pop-ups, poemas, contos de autor, BD, livros de aventuras, etc.
 
2. Bons mediadores
Importa realçar que é no seio da família que nasce quase sempre o amor duradouro pelos livros. Assim, pais interessados, disponíveis, pacientes e atentos viverão os momentos em que lêem em voz alta para os filhos como verdadeiros abraços de leitura, experiências afetivas intensas e de crescimento para todos. Os bons mediadores (em família, na escola ou na biblioteca), para além de encantarem com a magia das histórias, têm uma grande capacidade de diálogo com os livros, consigo próprios e com a criança.
 
3. Boas conversas /experiências continuadas à volta dos livros e das histórias
Momentos de descontração, de partilha, em que a mãe ou o pai não condicionam a leitura, mas antes a ampliam, esperando pelos tempos de resposta da criança, respeitando as suas divagações, integrando as interrupções, valorizando a beleza e o encanto do seu olhar, ligando a história à vida dessa criança, enriquecendo-a, através de perguntas que busquem significados cada vez mais profundos.
 
 
Cada criança é um ser único, com interesses e gostos específicos. Ninguém melhor do que a família comprometida com o ato de ler encontrará mais facilmente as histórias e os livros que poderão interessar à criança e despertar nela o gosto pela leitura. Cada família estabelece o momento e o lugar mais adequado para todos para o ritual da história - à tardinha, à hora de ir para a cama; com livro ou sem livro; no sofá, no banho, na cama. O mais importante é que esse contacto seja o mais possível diário. Façamos as contas: se uma família ler ou contar histórias ao seu filho todos os dias, por exemplo, dos 3 anos até à sua entrada no primeiro ciclo, essa criança chega à escola com uma bagagem de mais de 1000 (mil, leram bem!) momentos agradáveis de contacto com a magia das palavras e das histórias. Compreenderão, certamente, o que isso representa em termos de facilidade na aprendizagem da leitura e da compreensão de si próprio, dos outros e do mundo à sua volta.
 
 
ilustr. Patrícia Metola
 
Também nós precisamos de aprender a ser pais-leitores, e porque essa aprendizagem é um caminho com obstáculos, avanços e recuos, receios e satisfações, é necessário que nos encontremos, para vermos como podemos fazer melhor, para conhecermos mais e melhores livros, para partilharmos as nossas experiências, em suma, para falarmos destes 3 ingredientes. Esta é a génese das Conversas Pequenas para Pais. Nestes encontros mensais acerca de Literatura Infantil e das estratégias para a sua promoção em contexto familiar, procedemos à leitura atenta e partilhada de diferentes tipologias de livros infantis, exemplificamos atividades e comportamentos que estimulam a aquisição de hábitos leitores e promovemos um debate em redor do papel das famílias na formação de futuros leitores críticos, autónomos e esclarecidos.
 
 
NOTA: Texto escrito por mim a 2 de Março de 2015. Excertos do mesmo foram publicados no Boletim da Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém, na sequência da palestra acerca d' A Importância da Leitura.
Atualmente, as Conversas Pequenas para Pais (cada vez mais) fundiram-se com as destinadas aos Profissionais. É um belo grupo com quem é um prazer ler, refletir e dialogar mensalmente.
Para além disso, estão também já agendadas duas sessões de formação para pais e profissionais:
 
2 de Dezembro de 2016
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARTILHADA PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA, no JI de Grândola. Atividade integrada na programação da Feira do Livro da Biblioteca Municipal de Grândola.
 
12 de Janeiro de 2017
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARTILHADA NA INFÂNCIA, na Biblioteca Municipal de Faro. No âmbito do ciclo de palestras "Vamos conversar sobre as (nossas) crianças", numa parceria entre a BMF e a direção do curso de mestrado em Educação Pré-Escolar da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve.
 
 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

As Guardas: Guardiãs de Tesouros XXVII

É este espaço livre e aberto à imaginação dos leitores que quero celebrar. Deixarei aqui (quase) todas as semanas uma ou duas imagens das guardas iniciais e finais de um livro. Num silêncio atento e deslumbrado.

 
 
Outra vez!
Emily Gravett
Livros Horizonte
 

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

As Crianças e os Livros

"Uma criança sozinha com o seu livro cria, algures no quarto secreto da sua alma, as suas próprias imagens que ultrapassam qualquer outra coisa. Os seres humanos precisam de ter estas imagens. O dia em que as crianças deixarem de as conseguir fabricar será um dia em que a humanidade ficará empobrecida. Todas as grandes coisas que aconteceram no mundo aconteceram primeiro na imaginação de alguém, e a forma do amanhã depende grandemente do poder da imaginação daqueles que estão neste momento a aprender a ler. É por isso que as crianças precisam de ter livros."
                                                     Astrid Lindgren, excerto do discurso de aceitação do Prémio
                                                     Hans Christian Andersen, em 1958. (Tradução minha a partir
                                                     do inglês, com a autorização de Saltkråkan, que gere os direitos
                                                     de autor da sua obra.)
 
 
 
via

 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

As Guardas: Guardiãs de Tesouros XXVI

É este espaço livre e aberto à imaginação dos leitores que quero celebrar. Deixarei aqui (quase) todas as semanas uma ou duas imagens das guardas iniciais e finais de um livro. Num silêncio atento e deslumbrado.


 
Daqui ninguém passa
Isabel M. Martins e Bernardo Carvalho
Planeta Tangerina
 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Outubro

 
 
 
Este mês de Outubro deste ano é pleno de significado para mim.
Foi há exatamente 20 anos que dei a minha primeira aula. Encontrava-me na Alemanha, numa escola que praticava verdadeiramente a interculturalidade, a Europaschule Köln, num estágio de um mês, através de uma bolsa para futuros professores de Alemão. Pediram-me que desse uma aula à turma, de 1º  Ciclo, que acompanhava mais de perto. Contei-lhes uma história, ou melhor, uma lenda: a Lenda das Amendoeiras em Flor. E conversámos muito. Constato, feliz, que a literatura e o diálogo sempre fizeram parte do meu trabalho.
Foi também em Outubro, há 5 anos, que comecei a trabalhar por conta própria, como mediadora de leitura, após 4 anos de uma rica experiência numa biblioteca da rede de leitura pública. Cinco anos muito felizes, com atividades pontuais, como as sessões de histórias, os Contos com Música (com o talentoso Fernando Malão), ou Um Pequeno Museu Outoniço, e muitas pautadas pela continuidade, como as Grandes Histórias para Pequenos Leitores (para pré-leitores, desde 2011 no JI "O Sabichão"), as Oficinas de Leitura e Escrita, o Laboratório de Leitores Livres, as Conversas Pequenas (encontros mensais para pais e profissionais em redor dos livros e da sua promoção) e as Quartas com Letras (comunidade de leitores que dinamizo junto da Quadricultura Associação Cultural).
Um balanço muito positivo e carregado de gratidão que me faz avançar, com esperança, por novos caminhos leitores.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

OS BONS LIVROS

Na semana em que nos EUA se celebra a liberdade de ler com a "Banned Books Week" (Semana dos Livros Banidos) e no dia em que em Cuenca (Espanha) termina o Congresso Internacional "Censuras y Literatura Infantil y Juvenil", creio ser extremamente importante partilhar as palavras (minha tradução) ditas pelas crianças neste vídeo realizado pelo CEPLI, Centro de Estudios de Promoción de la Lectura y Literatura Infantil, da Universidade de Castilla La Mancha:
 
 
"Os livros, os bons livros, entretêm-nos. Assustam-nos, divertem-nos, emocionam-nos, fazem com que nos apaixonemos por eles, fazem-nos chorar a rir, às gargalhadas, ou até de tristeza.
Porque os livros, os bons livros, escondem nas suas páginas tudo o que acontece na vida. E a vida é alegre como um arco-íris, mas também, por vezes, cinzenta como uma tempestade. E é extensa, extensa como um rio enorme, ou também, às vezes, curta como um espirro. Umas vezes, ruidosa; outras, silenciosa. E ocorrem muitas coisas boas, acontecem outras normais e, às vezes, umas poucas más. E essa é a vida que queremos que nos contem os livros. Tal e qual. Não queremos que nos ocultem factos, nem nos alterem personagens, nem nos maquilhem aventuras, nem nos suavizem medos, nem nos dissimulem amores, nem nos apaguem os palavrões.
Por isso, hoje, todas as crianças do mundo, vos pedimos que não calem, nem censurem, nem persigam, nem queimem, nem leiam com olhos de adultos enfadados os desenhos e as palavras dos nossos livros. Que as obras depuradas, perseguidas, destruídas ou queimadas já só sejam histórias do passado que só possamos ler nos livros. E que os lápis azuis dos censores já não calem mais palavras, e que agora pintem corações."



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

As Guardas: Guardiãs de Tesouros XXV



É este espaço livre e aberto à imaginação dos leitores que quero celebrar. Deixarei aqui (quase) todas as semanas uma ou duas imagens das guardas iniciais e finais de um livro. Num silêncio atento e deslumbrado.
 
 
 
 
Indovina che cosa succede: una passeggiata invisibile
Gerda Muller
Babalibri



sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Um Pequeno Museu Outoniço


A preparar UM PEQUENO MUSEU OUTONIÇO.
Pode acontecer em Jardins-de-Infância, Escolas, Bibliotecas, Livrarias e muito mais.
Há um Pequeno Museu pensado para cada estação do ano.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

As Guardas: Guardiãs de Tesouros XXIV

É este espaço livre e aberto à imaginação dos leitores que quero celebrar. Deixarei aqui (quase) todas as semanas uma ou duas imagens das guardas iniciais e finais de um livro. Num silêncio atento e deslumbrado.

 
Plumdog
Emma Chichester Clark
Jonathan Cape

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Laboratório de Leitores Livres

No mês de Outubro iniciarei um novo projecto continuado de promoção da leitura destinado especificamente a crianças do 1º e 2º anos do 1º Ciclo do Ensino Básico. Terá uma regularidade semanal e prolongar-se-á até ao final de Maio. Irá chamar-se LABORATÓRIO DE LEITORES LIVRES.
 
                                                                  ilustr. Marie-Louise Gay

 
Assenta nas seguintes premissas:
 
"(...) A cultura em geral e a literatura para a infância e juventude em particular são tesouros que ajudam a iluminar o mundo, dando aos mais novos um lugar onde ficar e crescer. A literatura para a infância e juventude conta histórias que ajudam as crianças de todas as idades a compreenderem-se uns aos outros, e a aprenderem uns sobre os outros, a enfrentarem os medos que os preocupam, e a formularem respostas para as muitas questões das suas vidas. Mas também, e especialmente, porque estes livros  os ajudam a sonhar, a descobrir palavras e linguagem, estimulam a sua imaginação,  apresentam-lhes o mundo de uma maneira tão livre quanto possível, fazendo deles cidadãos do nosso planeta." 
                                     excerto da carta enviada pela direção do Salon du Livre de Montreuil 2015
                                                   a todos os escritores, ilustradores, editores e livreiros participantes.
 
 
 
 
 
A partir de uma vasto e variado conjunto de livros e materiais criteriosamente seleccionados, iremos realizar inúmeras experiências leitoras para ver e compreender melhor as coisas reais e fantásticas e as suas representações. Pretende-se expandir o imaginário e a criatividade, deixando de lado as imagens estereotipadas e as leituras unívocas. Apreciaremos o valor das palavras, de cada uma, reflectindo sobre a sua força e o seu peso. Observaremos com atenção os livros e o mundo à nossa volta, para encontrar as semelhanças, as gradações, as categorias, as relações, o ritmo, a poesia.
Iremos pisar o risco, pintar para além das linhas, sair da caixa, celebrar os erros e transformá-los em liberdade expressiva. Numa atitude de descoberta da infinita riqueza do mundo, estimularemos o pensamento crítico, capaz de questionar, interpretar e criar ligações novas e únicas, bem como a escuta de uma pluralidade de vozes e opiniões.
 
Para informações e inscrições: paula.cusati@gmail.com ou 960393479.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

ROALD DAHL 100

Vamos festejar o CENTENÁRIO DE ROALD DAHL?

 

Ao longo do dia 13 de Setembro, a Casa das Palavras irá desenvolver várias actividades para diversas idades em torno da obra de um dos maiores escritores do mundo para a infância e juventude.
Para além disso, há projectos e actividades sobre os livros de Roald Dahl pensados para os diferentes ciclos de ensino. Para escolas, bibliotecas e outras instituições culturais durante este ano lectivo de 2016/2017.
Informações e inscrições através do e-mail paula.cusati@gmail.com ou do telemóvel 960393479.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Andarilhando!

Vou a caminho! Esperam-me quatro dias maravilhosos de palavras, imagens, histórias, livros, encontros, aprendizagens, pessoas inspiradoras e muitos abraços.


Eu estarei hoje, 25 de Agosto, às 18:30, com a Sofia Paulino a apresentar o livro As Contadeiras de Histórias, da editora Simon´s Books. Amanhã, dia 26, às 19:30, irei CONTAR COM LIVRO NA MÃO.
O programa completo (que compreende 25 h de formação + I Festival de Contos do Mundo)  aqui e acolá. Para além disso, há exposições, instalações e o mercado livreiro. Razões de sobra para rumar a Beja.
Há dois anos foi assim .

sábado, 16 de julho de 2016

Férias Grandes III

 
 

july 12

soon we will go to the beach
where we will swim
and eat plums and peanut butter sandwiches
and we will think to ourselves
as we eat
on our blankett in the sand
that nothing in the world
could possibly be more delicious
than those plums
and those peanut butter sandwiches
a little bit salty
and warm from the sun


When green becomes tomatoes Poems for All Seasons, by Julie Fogliano, pictures by Julie Morstad, Roaring Brook Press.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

As Guardas: Guardiãs de Tesouros XXIII

É este espaço livre e aberto à imaginação dos leitores que quero celebrar. Deixarei aqui (quase) todas as semanas uma ou duas imagens das guardas iniciais e finais de um livro. Num silêncio atento e deslumbrado.

 
The Orange Book
Richard McGuire
Corraini, 2008

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Férias Grandes II

 
 
Quando eu era criança, as férias grandes eram um tempo mágico e gigante.
O dia começava com um pequeno-almoço demorado, que incluía a fruta que eu ia apanhar ao damasqueiro que ficava mesmo em frente à porta de casa ou à figueira um pouco mais afastada, perto do tanque. Até à hora do almoço havia tempo para passear pela ribeira, com os pés descalços, por entre as pedras e a pouca água que ainda teimava em correr. Esperávamos, em religioso silêncio, que as rãs recomeçassem a coaxar para descobrirmos os seus esconderijos e podermos vê-las, cada qual diferente, nos seus lindos verdes.
À tarde, o calor impedia-nos de brincar lá fora. Era a hora da sesta, sinónimo, para mim e para a minha irmã, de horas a ler no silêncio da casa adormecida. Quantos livros requisitávamos uma vez por semana na biblioteca da vila. Vinham connosco para casa em felizes sacos pesados. Depois do lanche havia as corridas de bicicleta, os mergulhos no tanque, as brincadeiras no sótão e a visita à figueira centenária que era casa, cavalo e baloiço.
Nas noites mais quentes, o meu pai trazia uma manta grande, as almofadas, e deitávamo-nos lá fora, de barriga para o ar, a conversar e a ver as estrelas, à espera que a casa arrefecesse. Era tão bom estarmos, assim, juntos. Como se aquele tempo não tivesse fim.


terça-feira, 14 de junho de 2016

Férias Grandes

As férias grandes começaram esta semana. Os dias deixaram de ser condicionados pelo ritmo da escola, com aulas, testes e TPCs. É tempo de descansar, brincar, viajar, explorar, ou, simplesmente, não fazer nada. Um tempo aventuroso, longo e livre, como pertence ao Verão.
As férias grandes são também protagonistas de muita da literatura infantil e juvenil, pelas inúmeras possibilidades que nos oferecem os dias contemporaneamente vazios de compromissos e cheios de mistério e surpresas. Deixo-vos dois bons exemplos:
 
 
Um pequeno livro, de capa mole, que nos fala dos sabores, sons e cheiros desta estação do ano, que nos leva a saborear os dias compridos e a pensar no que é para nós, leitores, sinónimo de Verão. É também um convite a explorar e a querer saber mais. Quem é que não fica com curiosidade em descobrir as zínias e as sécias, de que hoje em dia quase não se ouve falar? 
 
 
 
 
 
 
A segunda sugestão é um livro sem palavras:
 
 
Um dia na praia, de Bernardo Carvalho, Planeta Tangerina
 
Uma história muito bem contada pelas ilustrações de Bernardo Carvalho, que levará certamente a diálogos muito interessantes à medida que pais e filhos vão tecendo hipóteses. Um livro para ler devagar, com atenção, esticando o mistério de cada dupla página.
 
 
Estes são alguns dos livros que levarei para o último encontro desta temporada das Conversas Pequenas, dedicado precisamente às "Férias Grandes"  e que terá lugar na próxima semana.
 
Quanto ao blogue, iremos continuar a viajar pelos livros, com atualizações regulares. Até lá, divirtam-se, relaxem e apreciem a maravilha de cada um destes dias felizes, intermináveis e inesquecíveis.

terça-feira, 24 de maio de 2016

A cabeça no ar

As melhores coisas são feitas no ar,
andar nas nuvens, devanear,
voar, sonhar, falar no ar,
fazer castelos no ar
e ir lá para dentro morar,
ou então estar em qualquer sítio só a estar,
a respiração a respirar,
o coração a pulsar,
o sangue a sangrar,
a imaginação a imaginar,
os olhos a olhar
                         (embora sem ver),
e ficar muito quietinho a ser,
os tecidos a tecer,
os cabelos a crescer,
e isto tudo a saber
que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar,
só é preciso abrir os olhos e olhar,
basta respirar.

                 Manuel António Pina, in O Pássaro da Cabeça e mais versos para crianças.

sábado, 14 de maio de 2016

ENCONTRAR O TEMPO DA INFÂNCIA

 
 
 
No próximo sábado, eu e a Susana Cheis, psicóloga, iremos falar de como, neste tempo frenético, repleto de ecrãs, atividades escolares e extracurriculares, é importante desacelerar e escolher compreender e valorizar, em família e na sala de aula, a essência de cada criança: as suas características, ritmos, talentos e ensinamentos preciosos. 

Falaremos de como a infância de cada pessoa condiciona a sua vida futura, de como é importante criar um ambiente familiar e escolar sem estereótipos e preconceitos, onde a criança se sinta segura e livre para ver e ler com todos os sentidos, explorar, descobrir, decidir, fazer e criar. De tudo isto e muito mais!

quarta-feira, 11 de maio de 2016

AS HISTÓRIAS


"... as histórias são coisas vivas, criaturas que se mexem e que se desenvolvem na imaginação do autor e do leitor. Devem ser consistentes e palpáveis, tal como a terra, e devem possuir profundezas desconhecidas fluídas, tal como o mar. "
                                            David Almond, Uma criatura feita de mar, Editorial Presença.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

As Guardas: Guardiãs de Tesouros XXII

É este espaço livre e aberto à imaginação dos leitores que quero celebrar. Deixarei aqui (quase) todas as semanas uma ou duas imagens das guardas iniciais e finais de um livro. Num silêncio atento e deslumbrado.

 
 
 
O Livro da Tila
Matilde Rosa Araújo e Madalena Matoso (ilustrações)
Caminho, 2010.
 

sábado, 16 de abril de 2016

Dias de Chuva

Após um Inverno meigo, pelo menos aqui pelo Alentejo, a Primavera tarda em chegar e Abril parece querer fazer jus ao provérbio, trazendo águas mil. Lembro-me de que quando era criança, nos dias chuvosos, adorava calçar as botas de borracha e saltitar nas poças de água, olhar para as nuvens e sentir as gotas de chuva a caírem nos meus olhos, ir à ribeira para ver se a água tinha galgado a pequena ponte perto da casa dos meus avós, ou esperar pacientemente para ver todos os bichinhos que vinham espreitar: caracóis, lesmas, rãs e sapos.

Un giorno di pioggia
 
Bem sei que os dias de chuva equivalem muitas vezes a crianças aborrecidas e a pais enervados... Mas, mesmo dentro de casa e sem ecrãs, há tanto que podemos fazer para nos divertirmos!  
Uma excelente ideia é irmos ao armário buscar a CAIXA PARA DIAS DE CHUVA. Lá dentro as crianças poderão encontrar:
- baralhos de cartas para jogar em família ou para construir castelos;
- dominó;
- tabuleiro e peças de xadrez ou damas;
- mikado;
- jogo da glória;
- velhos álbuns de fotografias da família;
- jornais velhos para fazer aviões ou barcos de papel;
- poemas sobre a chuva para ler em voz alta e aprender de cor (como este de António Mota ou um pedaço de outro da Luísa Ducla Soares)
- bons livros (por exemplo: Um dia, um guarda-chuva, de Davide Calì e Valerio Vidali, ed. Planeta Tangerina)
- e tudo aquilo que acharem melhor para os vossos filhos.

Enfim, coisas simples para brincarmos juntos e, por isso, tão importantes.  Certamente tornarão mais felizes os dias de chuva.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

As Guardas: Guardiãs de Tesouros XXI

É este espaço livre e aberto à imaginação dos leitores que quero celebrar. Deixarei aqui todas as semanas uma ou duas imagens das guardas iniciais e finais de um livro. Num silêncio atento e deslumbrado.

 
 
 
A Baleia
Benji Davies
Orfeu Negro, 2016

domingo, 3 de abril de 2016

As Guardas: Guardiãs de Tesouros XX

É este espaço livre e aberto à imaginação dos leitores que quero celebrar. Deixarei aqui (quase) todas as semanas uma ou duas imagens das guardas iniciais e finais de um livro. Num silêncio atento e deslumbrado.

 
 
Um dia, um guarda-chuva...
Davide Calì e Valerio Vidali
Planeta Tangerina
 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O tempo na literatura para a infância

O tempo é a substância da literatura, a sua essência e tecido. Desde o início, o homem foi tecendo o real e o maravilhoso, contando-se, construindo-se e rasgando as fronteiras dos dias e da própria vida.
 Todas as histórias começam por "Era uma vez...", porta mágica para um tempo outro, em que os nossos olhos, coração e mente são só para as palavras que acontecem à nossa frente.


                       Antes Depois, Anne-Margot Ramstein e Matthias Aregui, Gatafunho


E se a palavra contada / escutada é tempo pleno, a palavra escrita / lida é tempo maior, permanentemente vivificado a cada leitura.
"Escrever representa uma das formas de desafio à morte: e ler, também, é permanecer. Qualquer forma de escrita, qualquer forma de leitura"
                                                                                Matilde Rosa Araújo in A Estrada Fascinante, Livros Horizonte 


Para ler em profundidade, é preciso tempo. Um tempo lento. Tema que me é muito caro e de que já falei aqui.
"A importância do caminho, portanto, não da chegada. Do tempo do caminho, que deve ser lento, não só para aceitar o passo de quem é mais fraco, mas porque seguindo a curiosidade e as emoções cada um possa aventurar-se, descobrir outras pistas, fazer desvios, voltar atrás, trocar pensamentos e sentimentos, contruir relações. E amanhã, exatamente por ter realizado uma caminhada deste tipo, possa não esquecer o que aprendeu"
                                          Fiorella Farinelli, no prefácio ao livro de Gianfranco Zavalloni, La Pedagogia della Lumaca
 

Enquanto mediadores, creio que é neste sentido que devemos orientar as atividades e projetos que concebemos. A mediação leitora significa semear, esperar, dar tempo, atentar, confiar e ir recolhendo, sem pressa.


                                            Dopo, Laurent Moreau, orecchio acerbo

Daqui partem as minhas reflexões acerca do Tempo na Literatura para a Infância, tema da sessão para mediadores que irei dinamizar hoje à tardinha no Centro do Livro Infantil da Biblioteca Municipal de Beja, a convite da Dra Cristina Taquelim, que pensou e conduziu de forma extraordinária, a 25 de Novembro de 2015, o primeiro destes ricos, inspiradores e gratuitos encontros, sempre na última quarta-feira do mês, dedicado à Guerra na Literatura para a Infância. Levo comigo uma mala cheia de livros que contam o tempo. E muitos mais estarão à nossa espera!


                                                        

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Tempo Novo

O ano novo entrou de mansinho, como lhe compete. A agenda nova começou a ser preenchida, com calma, pelos nossos diferentes afazeres. Houve tempo para saborear os dias de chuva, para abrir o coração a arco-íris do tamanho do mundo, para nos aninharmos nas noites frias ao redor da lareira. Houve tempo para avaliar projetos, afinar metodologias, repensar o trabalho e estabelecer mais uns bons propósitos.
Um ano inteiro pela frente! A esperança feita tempo, um tempo novo. Doze meses para sentir,  descobrir, explorar, conhecer, ouvir e contar. 366 dias que quero guardar. Para além do diário, há um livro especial que tem sido meu companheiro nessa tarefa tão rica:
 
 
Um livro que começa no inverno, quando, apenas aparentemente, tudo parece adormecido e que nos leva a olhar com atenção para a intensa atividade deste período do ano, convidando-nos a ir lá para fora descobrir os fenómenos sazonais da natureza. Estou, neste momento, a aprender a identificar as nuvens e o tempo que trazem:
 
 

 
Um livro / agenda que vem complementar o Lá Fora - Guia para descobrir a natureza, editado pelo Planeta Tangerina em 2014.
 
 
 
Bom ano novo! Boas leituras e boas descobertas!