sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Levar a ler (em família)

Ilustr. Sophie Blackall, Finding Winnie.
 
 
Não existem receitas, nem fórmulas mágicas, para levar uma criança a gostar de ler. A formação de um leitor começa quando a criança nasce, ou melhor, quando ainda está na barriga da mãe, e estende-se por vários anos até que se torne autónoma e competente na leitura e compreensão das imagens e das palavras dos livros ou dos sinais do mundo. Esse percurso é longo, emocionante, trabalhoso, exige reflexão, imaginação, mas, sobretudo, partilha e atenção.
 
Não existem receitas, mas há, a meu ver, 3 aspetos fundamentais, ou ingredientes, se assim lhe quisermos chamar, que contribuem indiscutivelmente para fomentar o prazer de ler desde a primeira infância:
 
1. Bons livros / boas histórias
No meio da enorme produção de livros infantis, atualmente em venda até em supermercados, é extremamente importante selecionar material de qualidade, em quantidade e variedade suficientes, e adequado à etapa de maturação leitora da criança: canções de embalar, lengalengas, trava-línguas, histórias tradicionais, livros-álbum, fábulas, livros informativos, pop-ups, poemas, contos de autor, BD, livros de aventuras, etc.
 
2. Bons mediadores
Importa realçar que é no seio da família que nasce quase sempre o amor duradouro pelos livros. Assim, pais interessados, disponíveis, pacientes e atentos viverão os momentos em que lêem em voz alta para os filhos como verdadeiros abraços de leitura, experiências afetivas intensas e de crescimento para todos. Os bons mediadores (em família, na escola ou na biblioteca), para além de encantarem com a magia das histórias, têm uma grande capacidade de diálogo com os livros, consigo próprios e com a criança.
 
3. Boas conversas /experiências continuadas à volta dos livros e das histórias
Momentos de descontração, de partilha, em que a mãe ou o pai não condicionam a leitura, mas antes a ampliam, esperando pelos tempos de resposta da criança, respeitando as suas divagações, integrando as interrupções, valorizando a beleza e o encanto do seu olhar, ligando a história à vida dessa criança, enriquecendo-a, através de perguntas que busquem significados cada vez mais profundos.
 
 
Cada criança é um ser único, com interesses e gostos específicos. Ninguém melhor do que a família comprometida com o ato de ler encontrará mais facilmente as histórias e os livros que poderão interessar à criança e despertar nela o gosto pela leitura. Cada família estabelece o momento e o lugar mais adequado para todos para o ritual da história - à tardinha, à hora de ir para a cama; com livro ou sem livro; no sofá, no banho, na cama. O mais importante é que esse contacto seja o mais possível diário. Façamos as contas: se uma família ler ou contar histórias ao seu filho todos os dias, por exemplo, dos 3 anos até à sua entrada no primeiro ciclo, essa criança chega à escola com uma bagagem de mais de 1000 (mil, leram bem!) momentos agradáveis de contacto com a magia das palavras e das histórias. Compreenderão, certamente, o que isso representa em termos de facilidade na aprendizagem da leitura e da compreensão de si próprio, dos outros e do mundo à sua volta.
 
 
ilustr. Patrícia Metola
 
Também nós precisamos de aprender a ser pais-leitores, e porque essa aprendizagem é um caminho com obstáculos, avanços e recuos, receios e satisfações, é necessário que nos encontremos, para vermos como podemos fazer melhor, para conhecermos mais e melhores livros, para partilharmos as nossas experiências, em suma, para falarmos destes 3 ingredientes. Esta é a génese das Conversas Pequenas para Pais. Nestes encontros mensais acerca de Literatura Infantil e das estratégias para a sua promoção em contexto familiar, procedemos à leitura atenta e partilhada de diferentes tipologias de livros infantis, exemplificamos atividades e comportamentos que estimulam a aquisição de hábitos leitores e promovemos um debate em redor do papel das famílias na formação de futuros leitores críticos, autónomos e esclarecidos.
 
 
NOTA: Texto escrito por mim a 2 de Março de 2015. Excertos do mesmo foram publicados no Boletim da Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém, na sequência da palestra acerca d' A Importância da Leitura.
Atualmente, as Conversas Pequenas para Pais (cada vez mais) fundiram-se com as destinadas aos Profissionais. É um belo grupo com quem é um prazer ler, refletir e dialogar mensalmente.
Para além disso, estão também já agendadas duas sessões de formação para pais e profissionais:
 
2 de Dezembro de 2016
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARTILHADA PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA, no JI de Grândola. Atividade integrada na programação da Feira do Livro da Biblioteca Municipal de Grândola.
 
12 de Janeiro de 2017
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARTILHADA NA INFÂNCIA, na Biblioteca Municipal de Faro. No âmbito do ciclo de palestras "Vamos conversar sobre as (nossas) crianças", numa parceria entre a BMF e a direção do curso de mestrado em Educação Pré-Escolar da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve.